carruagem de fogo

quinta-feira, 22 de maio de 2008

A grande chance

Este é o Brasil onde crianças perdem o sorriso

O país está perdendo a inocência e o amor-próprio.

Tragédias se sucedem. A corrupção fustiga, bandidos matam, sem dó nem piedade. Muitos crimes assombram, sem solução.

Este é o Brasil onde crianças perdem o sorriso. Depois, viram anjos.

Um bebê é jogado na lagoa. Uma menina é torturada em Minas Gerais. E um menino morre arrastado pelas ruas do Rio de Janeiro.

Como triste arremate, um assassinato, de caráter inominável, atinge o Brasil que pára, chora e pergunta: “Deus, que sociedade é essa, que país é este?”

O quê se passa por uma mente ao matar uma inocente garotinha de cinco anos de idade?

A mídia detalha, freneticamente, o covarde crime, chamando a atenção para o flagelo que, dia a dia, insiste em ceifar milhares de crianças anônimas, em nosso país – a violência doméstica.

E, entre gritos e desabafos na televisão, surgem vozes afirmando que ainda resta uma única chance – uma só – capaz de livrar o povo brasileiro de todo esse colapso moral: o jeito é investir na educação. Este é o passo fundamental para que o Brasil recupere sua alto-estima e passe a viver num mundo sério, de responsabilidades, com valores éticos e direitos respeitados.

Oxalá este momento, de profunda dor, desperte em nossos dirigentes a imperiosa necessidade em ver a educação como prioridade máxima. Só assim, poderemos ver resolvidos os problemas que, impiedosamente, castigam o nosso povo.

Que os profissionais da educação possam ser valorizados à altura da responsabilidade que têm – em instruir uma nova geração de brasileiros – na construção de um país igualitário, edificado com mais justiça, dignidade e paz.

Como bem disse Mandela: “A educação é a mais poderosa arma que você pode usar para mudar o mundo”.

Que em breve, muito em breve, possamos nos tornar um povo mais bem informado, instruído e consciente.

Ainda nos resta essa chance. A única.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

O inferno de Dante arde aqui

Um elevado número de faltas de uma aluna preocupa a professora, que leva o fato ao Conselho Tutelar. Ao saber, avó da menina – ao contrário do que qualquer pessoa com o mínimo de valor moral faria – resolve marcar a vida e o rosto da professora, dando-lhe uma bofetada.

E, após anos e anos de economia e de estafante trabalho, duas professoras conseguem realizar um antigo sonho: comprar um carro. Mas, numa noite, depois de uma extensa jornada, com o corpo já tomado pelo cansaço, chegam ao pátio e deparam com uma cena que faria Dante Alighieri se arrepiar de horror: os tão desejados carros, estavam lá, ardendo em chamas.

A Divina
Comédia? Um novo filme sobre o inferno do escritor italiano? Nada disso. É a mais cruel realidade dos professores da rede pública estadual. Cenas vividas aqui mesmo, no interior do nosso Estado.


É bom lembrar que tudo isso não passa do mais fiel retrato de uma frouxidão moral, alimentada por leis arcaicas que estimulam os criminosos, sempre favorecidos por uma intocável impunidade.

A violência escolar se banalizou de tal forma, vulgarizou-se a tal ordem que notícias de agressão a professores chamam a atenção da população apenas quando a gravidade do ocorrido extrapola os muros da escola.

Insisto na necessidade de medidas que dêem tranqüilidade aos pais, alunos e professores. Para que isso aconteça, eles precisam ser ouvidos. Suas queixas e sugestões têm que atingir os mandatários educacionais do Estado.

Definitivamente, a escola pública não pode ser mera caixa de ressonância de uma sociedade marcada pela violência. Mas um paradigma de mudança social, primeiro e indispensável passo em direção a um futuro promissor.

Na história de Dante existe o paraíso. Aqui, também. Pelo menos na cabeça dos que nos prometem mudanças, punição para os fora-da-lei, fim da impunidade e tudo mais. Mas, essas promessas passam, e bem rápido, embaladas no profundo sono do descaso.

A bofetada no rosto da professora dói em cada um de nós. Arde em nosso peito, destrói nossa identidade e queima, bem devagar, consumindo o orgulho, o pouco que ainda nos resta, de sermos brasileiros.


Palmiro Mennucci é presidente do CPP (Centro do Professorado Paulista)